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Post: 28/02/2008
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FOLHA DE SÃO PAULO, C4 Caderno COTIDIANO - 26/02/2008
AFRA BALAZINADA REPORTAGEM LOCAL Natasha Batista, 9, aluna do 2º ano do ensino fundamental, tem um bom desempenho escolar, mas só consegue acompanhar as aulas com a presença da mãe. Isso porque precisa subir dois lances de escada de 13 degraus para chegar à sua sala, no colégio estadual Arthur Guimarães, em Santa Cecília (centro de São Paulo) e não tem ninguém para ajudá-la a tomar o lanche e ir ao banheiro.
A aluna tem paralisia cerebral -o que não afeta sua capacidade intelectual, mas lhe causa problemas motores e de fala. Natasha anda de cadeira de rodas e, sobe as escadas com a ajuda da mãe, que a segura.
Desde que as aulas começaram, a empregada doméstica Martinha dos Santos, 38, deixou de trabalhar pela manhã para ficar na sala de aula.Em 2007, a estudante teve o auxílio de uma funcionária por cerca de dois meses. Entretanto ela foi demitida e, no restante do ano, a própria professora se comprometeu a auxiliá-la. "Não era obrigação da professora. Mas acho que a escola, sim, tem que dar condições para a minha filha estudar sem eu estar junto", diz Martinha.
Natasha nunca reclama de ter de ir para a escola. "Adoro encontrar meus amigos", diz. Sua mãe conta que ela é estimulada pelas outras crianças e quer fazer tudo o que as demais fazem. "E também bagunça."A doméstica comprou até um notebook para a filha conseguir anotar as aulas -a dificuldade motora impossibilita que Natasha escreva à mão. "Faço tudo o que posso para melhorar a vida dela, não meço esforços."
Com 700 alunos, a escola não tem rampa de acesso e descumpre o decreto federal 5.296, de 2004, que determina que os estabelecimentos de ensino, públicos ou privados, proporcionem condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida -isso inclui salas de aula, bibliotecas, ginásios, áreas de lazer e sanitários.
As edificações de uso público tinham 30 meses, a contar da data de publicação do decreto, para garantir a acessibilidade. O prazo venceu em 2007.
Além de colocar rampas ou elevador, seria fácil resolver o problema: a turma de Natasha poderia mudar de sala, para o térreo. A Secretaria de Estado da Educação disse que obrigará a escola a fazer isso.
Para o neuropediatra Mauro Muszkat, coordenador do Nani (Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil), da Unifesp, é importante que Natasha estude numa escola regular. "Quase metade das pessoas com paralisia cerebral não tem dificuldades cognitivas e intelectuais", afirma. Segundo ele, para isso o colégio precisa fazer as adaptações necessárias.
Os outros estudantes, afirma o médico, só têm a ganhar com o convívio. "Eles experimentam lidar com o diferente."
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