domingo, 1 de março de 2009

INCLUSÃO ESCOLAR - Aluna com PARALISIA depende da mãe para assistir à aula

Natasha, 9, com a mãe, Martinha; ela tem paralisia cerebral e depende da ajuda da mãe para ir à escola (IMAGEM - FOTO) - Julia Moraes/Folha Imagem
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Post: 28/02/2008
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FOLHA DE SÃO PAULO, C4 Caderno COTIDIANO - 26/02/2008





AFRA BALAZINADA REPORTAGEM LOCAL Natasha Batista, 9, aluna do 2º ano do ensino fundamental, tem um bom desempenho escolar, mas só consegue acompanhar as aulas com a presença da mãe. Isso porque precisa subir dois lances de escada de 13 degraus para chegar à sua sala, no colégio estadual Arthur Guimarães, em Santa Cecília (centro de São Paulo) e não tem ninguém para ajudá-la a tomar o lanche e ir ao banheiro.




A aluna tem paralisia cerebral -o que não afeta sua capacidade intelectual, mas lhe causa problemas motores e de fala. Natasha anda de cadeira de rodas e, sobe as escadas com a ajuda da mãe, que a segura.




Desde que as aulas começaram, a empregada doméstica Martinha dos Santos, 38, deixou de trabalhar pela manhã para ficar na sala de aula.Em 2007, a estudante teve o auxílio de uma funcionária por cerca de dois meses. Entretanto ela foi demitida e, no restante do ano, a própria professora se comprometeu a auxiliá-la. "Não era obrigação da professora. Mas acho que a escola, sim, tem que dar condições para a minha filha estudar sem eu estar junto", diz Martinha.




Natasha nunca reclama de ter de ir para a escola. "Adoro encontrar meus amigos", diz. Sua mãe conta que ela é estimulada pelas outras crianças e quer fazer tudo o que as demais fazem. "E também bagunça."A doméstica comprou até um notebook para a filha conseguir anotar as aulas -a dificuldade motora impossibilita que Natasha escreva à mão. "Faço tudo o que posso para melhorar a vida dela, não meço esforços."




Com 700 alunos, a escola não tem rampa de acesso e descumpre o decreto federal 5.296, de 2004, que determina que os estabelecimentos de ensino, públicos ou privados, proporcionem condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida -isso inclui salas de aula, bibliotecas, ginásios, áreas de lazer e sanitários.




As edificações de uso público tinham 30 meses, a contar da data de publicação do decreto, para garantir a acessibilidade. O prazo venceu em 2007.




Além de colocar rampas ou elevador, seria fácil resolver o problema: a turma de Natasha poderia mudar de sala, para o térreo. A Secretaria de Estado da Educação disse que obrigará a escola a fazer isso.




Para o neuropediatra Mauro Muszkat, coordenador do Nani (Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil), da Unifesp, é importante que Natasha estude numa escola regular. "Quase metade das pessoas com paralisia cerebral não tem dificuldades cognitivas e intelectuais", afirma. Segundo ele, para isso o colégio precisa fazer as adaptações necessárias.




Os outros estudantes, afirma o médico, só têm a ganhar com o convívio. "Eles experimentam lidar com o diferente."

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